domingo, 15 de novembro de 2015

Auto Retrato

Um pouco mais de café e afeto
De mim só um tanto mais
Quero só um pouco mais de carinho
Me entrego sem medo
Sem lêvedo
Me deixo ir com tenaz;

Um tanto mais do seu jeito
Entrançado ao meu estranho tímido novo mundo
Um pouco mais de alma
Me entrego apaixonadamente sem devaneios
Um adolescente revelando-se sem freios
Me deixo fluir com calma;

Um trago a mias do seu cheiro
De mim sempre um tanto mais de pele
Quero sempre mais do seu sabor
Me entrego ao seu dispôr
Sentimento residente em gueto
E deixo que o amor me expele.


VISÍVEL MUNDO INVISÍVEL

Acordei com monstro no conector do celular
Ontem ele estava na calçada da casa
agora ele sussurra ao lado enquanto escrevo
E quando eu menos percebo
Ele cria asa
e me surge na divisa do quarto com a sala de estar
LOUCO!!!
Na porta do banheiro ele cria números
enquanto a água escorre no cabelo
Irracionalmente cria-se uma lógica de rituais
e enquanto tudo suja toda a pura vez branca da mente
Eu sigo na luta constante de réu em vários tribunais
CULPADO!!!
Assim segue o monstro invisível
Destruidor ácido do que me constitui sensível
E em todas as óticas de me achar desprezível
Sigo a tentar encontrar uma saída possível
Que esteja além desta química perecível
Desta perseguida rotina destrutível

TOC!!!

À CAMINHO DO PERENE RIO

O rio corre
Meninos movem-se,
Antes que toda água do açude jorre
Os galos cantam
E os meninos correm
Tangendo o gado
Atrás de uma bola, de uma ave
Ou com trouxa  de roupa as costas.
Mata a dentro
Piçarra misturada com pedras afora
Construções de pau-a-pique revela mais um menino para o mundo
antes que ele venha a correr, o menino chora
Compadres esperam um pouco
Para um delicioso doce
Quem sabe um café
Ou um leite tirado na hora
No  rádio de pilha
Baladas sertanejas de violas
Na calçada um senhor pita mais um cigarro de palha
Os pássaros livres entre os galhos
Mal sabem que passarão a serem domesticados em gaiolas

E os meninos?
Os meninos ainda correm...

Meninas trafegam a inocência
Tranças, piolhos, nada a mercê da moda
Correntes de trancilin, cai no poço, competições de pula corda
Sem buzinas, sem sinais, sem amarras, sem consolas
Os carros se camuflam em carroças
As grutas ecoam o som calmo das junções dos rios,das grotas
As matas verdes respiram sem escórias
O azul do céu aqui não se confunde com o cinza
E a correria urbana do tempo
Ganha outro contexto itinerário das horas

E os meninos e meninas ?
Deram uma pausa para irem a escola

Assim tudo segue 
Amanhã começará tudo outra vez:
Bicicletas, motos, carroças,carroçais,
Rios, pássaros, estrumes entrando pela derme das narinas
continuará tudo na mesma rotina
Com o sol queimando a cabeça, enrugando a pele
E o suor misturado a poeira coçando a retina
Mas antes disso o sol se esconde
A lua surge com sua poesia ao longe
As veredas temem lendas
e outros contos que se escondem ao monte
Estrelas anunciam o sono e desejo
De um povo que segue a vida
na passada da devoção de um monge.

E os meninos e meninas ?
Agora eles dormem.


CRISE DE IDENTIDADE

Perdido não sei,
Confuso creio que bastante,
Mas a cada dia
O agora me convence
que podemos reescreve o futuro
mas sem apagar o passado
quem sabe assim
não cometemos os mesmos erros de antes.

Fotografias se perdem aos olhos
queria não ler meu horóscopo
Pois  acordei achando o dia cintilante
e tudo que me rodeia
não parece mais distante;
E as dúvidas frequentes
Me tornam cada vez mais delirante
Quem sabe hoje tudo fique suspenso, leve
Talvez a brisa venha acalmar
E  o por do sol ou começo da noite
Venha projetar suas luzes
sobre este coração irradiante.


BOÊMIO ROMÂNTICO

Entre o sangue e vinho,
 entre a flor e os espinhos,
 assim corre em contradição,
 simultâneos passos de diferentes caminhos.

E a vida ganha outras formas
que meu mundo ainda não encontrou o pergaminho
A minha solidão é em multidão
E  a rota da vida segue com intenso carinho

Cicatrizes  e outras diretrizes
cronometram cada gole do meu vinho
E antes que minha falsa intelectualidade
Ganhe aspecto mesquinho

Eu volto a mesa
e rodo com meus olhos a mistura do branco com azul marinho
Mas o Céu aparentemente estático
Me deixa ver que aonde eu for

eu nunca estarei sozinho.